21/07/2012
Grande número de animais tem sido mortos por choques com barcos e hélices. Cientistas temem que turismo de observação dos cetáceos seja a causa.
Corpo de baleia azul flutua na costa sul do Sri Lanka. Mortes da espécies estão aumentando na região
No início de abril, observadores de baleias da costa sul do Sri Lanka tiveram uma visão perturbadora: o corpo sem vida de uma baleia azul de 60 metros de comprimento flutuando na água a cerca de 20 quilômetros da costa.
O corpo estava ficando rapidamente inchado e havia peixes-piolho sugando toda a pele do animal. Ainda mais perturbadora era a condição da cauda, que tinha sido quase separada do corpo.
"Ficou muito claro que havia sido a hélice de um barco", disse Mazdak Radjainia, biólogo estrutural e fotógrafo subaquático da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, que encontrou a baleia por acaso. "Deve ter sido uma morte muito cruel, porque a lesão era enorme."
Os pesquisadores dizem que os choques com embarcações são uma das principais causas de morte entre as baleias. Muitas das que são mortas pertencem a populações ameaçadas, como as baleias azuis, que mal têm conseguido se manter.
A questão é particularmente problemática no Sri Lanka, onde uma grande população de baleias azuis não estudadas, cujo número possivelmente chega aos milhares, tem enfrentado a pressão crescente da navegação comercial e de uma explosão de barcos de observação de baleias não regulamentados.
Como essas águas não são devidamente controladas, os cientistas não sabem ao certo se os choques com barcos estão aumentando. Mas a morte da baleia em abril já foi a sexta do ano, segundo informações da imprensa. Em um terrível choque ocorrido em março, uma baleia azul foi encontrada se sacudindo sobre a proa de um navio porta-contêineres no porto da capital, Colombo, a 145 quilômetros ao norte daqui desta estância balnear. No ano passado, cerca de 20 carcaças de baleias (nem todas azuis) foram vistas ao redor da ilha, de acordo com Arjan Rajasuriya, oficial de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa de Recursos Aquáticos e da Agência de Desenvolvimento em Colombo. Não se sabe quantas das mortes resultaram de choques com embarcações.
"Esses choques provavelmente representam apenas uma parcela da provável mortalidade real", disse John Calambokidis, pesquisador de baleias de Olympia, Washington, que documenta choques com embarcações na costa oeste dos Estados Unidos. Como as baleias azuis muitas vezes afundam logo depois de serem atingidas, a maioria dessas mortes não é registrada, e Calambokidis diz que o número verdadeiro "pode ser 10 ou 20 vezes" maior do que o percebido.
A vinte e cinco quilômetros da costa sul do Sri Lanka está um dos corredores de transporte mais movimentados do mundo, e as baleias são conhecidas por nadarem regularmente dentro deles. Mas alguns cientistas acreditam que o aumento na observação de baleias pode estar forçando os animais a irem mais longe para procurar por comida, empurrando-os para a rota de grandes navios.
"Temo que as baleias estejam sendo perturbadas pelos barcos de observação e que isso possa estar afetando o movimento delas", disse Asha de Vos, pesquisadora de baleias do país.
A ameaça sofrida pelas baleias motivou alguns pesquisadores a se esforçarem para aprender o máximo que puderem sobre elas, de modo a encontrar uma maneira de protegê-las.
"Ter essas baleias bem perto da costa é algo impressionante", disse o cientista Ari S. Friedlaender, pesquisador do Laboratório Marinho da Universidade Duke. "Sabemos tão pouco sobre as baleias azuis em geral que qualquer lugar onde tenhamos fácil acesso a animais como esses aumenta a curva de aprendizagem exponencialmente."
Em 2009, o Sri Lanka pôs fim a uma terrível guerra civil de 25 anos, que em grande parte manteve os cientistas e pesquisadores estrangeiros longe de suas águas. Várias pesquisas de cunho geral da década de 1970 revelaram que a presença de baleias, mas o interesse começou a crescer apenas nos anos 1990. Os pesquisadores se atraíram particularmente pelo fato das baleias tenderem a ficar na região durante todo o ano; sabe-se que outras populações de baleias azuis percorrem longas distâncias migrando.
Talvez ninguém tenha estudado essas baleias e promovido a preservação delas mais do que de Vos.
Três anos atrás, de Vos iniciou o Projeto Baleia Azul do Sri Lanka, um programa de pesquisa de longo prazo que ela espera que interrompa a carnificina e sensibilize as pessoas a respeito das baleias locais. Nos últimos três anos, de dezembro a maio, ela fotografou as baleias e usou instrumentos científicos para compreender melhor seus comportamentos alimentares.
"Existe claramente algo lá embaixo que está fazendo com que elas fiquem mais perto da costa. Mas precisamos saber onde isso está e de quantidade estamos falando", disse ela.
Em março, de Vos foi ajudada por uma equipe de pesquisadores do Laboratório Marinho da Universidade Duke. O grupo trouxe para cá um ecobatímetro eletrônico, que usa ondas sonoras para medir a densidade de presas na água. Durante 10 dias, ela e a equipe percorreram quilômetros do litoral, fazendo medições e encontrando pontos de maior densidade de krill.
Os dados vão ajudar os cientistas a entenderem melhor onde e quando as baleias se alimentam – e, de Vos espera, persuadir o governo a mudar as rotas de navegação mais para o alto mar.
De Vos, que nasceu e cresceu em Colombo, tornou-se defensora das baleias azuis após fazer um passeio de barco em 2006 e ficar impressionada com o que viu.
"Havia seis baleias em uma extensão de quatro quilômetros quadrados a partir de onde eu estava, e isso foi o suficiente para mim", disse ela. "Aquele foi um sinal. Entendi que eu queria compreendê-las melhor e protegê-las."
Porém, sua iniciativa é repleta de desafios, incluindo a falta de apoio das autoridades locais e as desvantagens de ser uma mulher jovem em uma sociedade dominada por homens. --
-- "Estou muito sozinha por aqui", disse ela. "Não tenho muita infraestrutura ou equipamentos para fazer o meu trabalho."
Ela recebeu algum apoio financeiro da Universidade da Austrália Ocidental, onde está completando um doutorado em Oceanografia.
"O trabalho de de Vos está de fato preparando o terreno para futuras pesquisas sobre esses animais", disse Friedlaender, que espera visitar a região no ano que vem.
De Vos observa que com o fim da guerra civil no Sri Lanka, existe atualmente um grande esforço para intensificar o turismo, e a observação de baleias é uma parte fundamental da estratégia de desenvolvimento do governo. Embora esse esforço possa trazer o tão necessário desenvolvimento econômico para este país pobre, de Vos se preocupa com a possibilidade disso tudo estar acontecendo rápido demais.
"No momento, os barcos de observação de baleias estão sendo conduzidos de maneira desordenada perto dos animais", disse ela. "Eu não quero que isso se difunda de uma maneira que se torne uma perturbação para as baleias."
Em outros países, com indústrias estabelecidas de observação de baleias, as leis proíbem que se fique perto dos animais; os Estados Unidos, por exemplo, definem uma distância mínima de 90 metros. De Vos gostaria que houvesse regulamentos semelhantes no Sri Lanka.
"Nessa nova era de paz, a baleia azul está se tornando muito rapidamente o símbolo de nosso país", disse ela. "Seria muito triste prejudicar esses animais por causa de nossa insensatez."