terça-feira, 28 de junho de 2011

Filme - The Cove - A Baía da Vergonha




O documentário traz o caso da indústria pesqueira japonesa (o que inclui não só peixes, mas animais marinhos de um modo geral) e do lobby político feito por um dos países que mais consome comida marinha. Mais do que isso, a produção denuncia a crueldade com os golfinhos na cidade de Taiji e de como após a proibição da caça às baleias esses animais se tornaram principal alvo dos pescadores, mas também da indústria dos parques aquáticos, que movimenta bilhões de dólares em todo o mundo.

The Cove me comove por diversos motivos. Mas se nem todos são sensíveis à vida animal como eu, afirmo que isso vai além da piedade e empatia. De acordo com estudo publicado na Science, se continuarmos na mesma taxa de consumo de peixe,  haverá um colapso das reservas de pescado num prazo de 40 anos. Pode até parecer pessimismo, mas tal acontecimento teria potencial devastador.  Tenho certeza que com o aumento populacional para 7 bilhões de pessoas, também em até 40 anos, haverá aumento na demanda de carne bovina ao mesmo tempo em que será crescente a necessidade de áreas para plantação e habitação. E mais que a carne, os peixes e outros animais marinhos são fontes de alimentos para 7 em cada 10 pessoas no mundo. Isso não é pouco.
O famoso autor do livro “A Empresa Sustentável”, Andrew Savitz,  faz uma analogia ao declínio da, até então próspera, indústria baleeira norte-americana. Segundo o autor, a caça aos animais, que por mais de um século representou o símbolo da prosperidade, entrou em decadência quando foi ignorada a ameaça de extinção desses animais, o que fez com que, em poucos anos, toda a indústria entrasse em colapso. Esse é um exemplo típico do que não é sustentabilidade: ter a questão financeira como única preocupação e medida de sucesso.
Da mesma forma que a indústria baleeira não considerou a finitude dos recursos naturais, seu insumo, nós não estamos considerando que somos nós quem dependemos da natureza e do que ela oferece – e não o contrário. Não é questão de opção, mas de sobrevivência. Se não começarmos a diminuir nosso consumo e impacto no meio ambiente, vai chegar o momento em que seremos obrigados a fazê-lo: pois não haverá carne, pois não haverá locais onde cultivá-la, não haverá peixes, pois já teremos extinto pela pesca predatória e insustentável.
Me pergunto, por que não começar a resolver o problema antes que todo o sistema entre em colapso? Por que continuar com essa matança a fim de preservar um sistema econômico tão falho? Esperar para que aconteça a mesma coisa que aconteceu com a indústria baleeira norte-americana?
Documentários como The Cove só provam o quão somos a espécie mais egoísta e estúpida. Ele certamente trouxe repercussão à causa. Pessoas em todo o mundo, inclusive os japoneses, têm levantado a voz em relação ao que acontece em Taiji – e em tantas partes do mundo.
Uma mudança radical é necessária. E sendo ela processual, é preciso que se comece por cada um. Porém, se não conseguimos mudar uma prática tão localizada, em uma enseada de uma pequena cidade, de um pequeno país, como conseguir mudar atitudes a um nível global?

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