O dia 8 de Agosto de 1970 foi catastrófico para uma família de orcas. Depois de uma perseguição selvagem, um grupo de dez jovens foi aprisionado em redes pesqueiras com o objetivo de serem capturadas e vendidas a aquários e parques marinhos. Quatro delas, num último esforço para se soltarem e irem para junto das suas mães, morreram afogadas. As outras seis foram vendidas a destinos diversos e nunca mais voltariam a ver a sua família.
Hoje, mais de 40 anos depois, apenas existe uma sobrevivente: a Lolita.
A Lolita foi comprada pelo Miami Seaquarium por uns meros 6 mil dólares e durante 40 anos tem sido, literalmente, a grande estrela do mesmo e a maior atracão de visitas. Nos primeiros 10 anos, Lolita teve companhia de um macho, Hugo, que estava no aquário há dois anos quando ela chegou. Os dois tornaram-se grandes companheiros e chegaram a acasalar, apesar de não terem nascido filhotes.
Mas em 1980, Hugo morreu em circunstâncias misteriosas. Oficialmente, a fatalidade deveu-se a um aneurisma cerebral, mas suspeita-se que a morte tivesse sido provocada pelo impacto na cabeça numa estrutura no interior do aquário, devido ás reduzidas dimensões do mesmo.
Essa foi a última vez que a Lolita teve companhia. Um estudo publicado pouco depois da morte de Hugo, demonstrou que a Lolita começou a sofrer de perturbações de sono e apresentava sinais de luto após a morte do companheiro.
Desde 1980, a Lolita vive sozinha num tanque que é, provavelmente, o tanque de orca mais pequeno dos EUA, pouco maior do que a piscina de um hotel. Continua ininterruptamente a executar o showpara o qual é usada e do qual o aquário retira grande parte dos seus lucros anuais. Com 44 anos de idade e sabendo-se que a esperança média de vida de uma orca é de 50 anos, pode-se considerar que a Lolita é já idosa, mas nem isso faz com que a deixem de usar.
Como seria de esperar, toda esta situação tem atraído a atenção dos defensores dos direitos dos animais e ativistas. O facto de um animal tão inteligente e tão social viver sozinho durante mais de 30 anos, num espaço pequeno demais para o seu tamanho e continuamente usado para dar espetáculo aos visitantes, é considerado um tratamento cruel e de pura escravidão.
Em 2008, Lolita foi protagonista num documentário chamado «Lolita: Slave to Entertainment» (em português, escrava para entretenimento), onde são destacadas as más condições em que vive e se pede que seja libertada na natureza, nestes últimos anos da sua vida. O documentário esteve presente em 45 festivais e ganhou 11 prémios: o de melhor documentário para o festival internacional de Nova Jersey e também para o Eclipse Film Festival; o de escolha do público no Newport Beach Film Festival, o de melhor reportagem de investigação no EarthVision 2003 Festival, entre outros.
Na página do Miami Seaquarium, Lolita e o “seu” show continua a ser o grande destaque. A grande atração, a grande fonte de lucro.
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