17 OUTUBRO 2010
De Hardy Jones, diretor executivo da BlueVoice
Golfinhos sendo encurralados na enseada.
Enquanto o mundo se foca nos eventos em Taiji, outra ameaça letal e traiçoeira aos golfinhos segue amplamente desapercebida, uma que provê uma razão imponente para que os golfinhos e baleias não só deixem de ser caçados mas que recebam mais proteção do que nunca.Nos últimos cinco anos houve uma tsunami massiva de publicidade sobre a matança de golfinhos no Japão. Em 2003 eu fiz filmes sobre o assunto para a National Geographic Television International e para a PBS. Esses filmes foram vistos por milhões. Whale Wars no Animal Planet e The Cove também no Associated Press e nos cinemas por todo o mundo trouxeram para audiências internacionais a barbárie da matança de golfinhos e baleias. Eu já ouvi dos próprios caçadores de golfinhos que eles ficariam sem trabalho se seus métodos bárbaros fossem divulgados. Divulgar a matança em Iki, Futo, e Taiji se tornou então minha estratégia. Mas a matança continua e ela pode até estar crescendo.
Golfinhos estão severamente ameaçados por um número crescente de doenças derivadas da contaminação dos oceanos. Durante o último ano, um número crescente de artigos científicos vem sendo publicados documentando um aumento por todo o mundo na incidência de doenças até agora desconhecidas em golfinhos. Um grupo de pesquisadores e veterinários do Marine Animal Disease Lab, da Universidade da Flórida, descobriram pelo menos cinquenta novos vírus em golfinhos. O aumento exponencial é devido ao corpo dos golfinhos carregar altos níveis de poluentes orgânicos como PCBs, PBDEs, DDT, e outros produtos químicos que suprimem o sistema imune de mamíferos e atrapalha o funcionamento normal das funções endócrinas. Alguns destes produtos químicos são conhecidos por serem mimetizantes de estrogênio que agem feminilizando machos e super-feminilizando fêmeas.
Ainda mais, resistência a antibióticos foi encontrada em golfinhos em diversos locais ao redor do mundo. Obviamente, antibióticos não ocorrem naturalmente. Eles são derivados de pessoas e animais que usam antibióticos e os introduzem no ecossistema através de excreção ou simplesmente ao jogar fora pílulas não utilizadas. Após chegarem às bacias hidrográficas são consumidos pelo plâncton e bio-acumulados pela cadeia trófica se concentrando em predadores como os golfinhos. O que preocupa o Centro para Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) é o fato que golfinhos resistentes a antibióticos tem o potencial de criar super parasitas que podem retornar ao seres humanos. A transmissão de doenças entre espécies é conhecida como zoonose. AIDS é um exemplo de transmissão zoonótica.
Se o Japão parasse a caça de baleias e golfinhos agora passaria a imagem de que os ambientalistas os forçaram a se render, algo que uma nação insular orgulhosa não pode tolerar. Mas a informação de que doenças tais como a brucelose e vírus como o papilomavírus estão sendo encontrados cada vez mais frequentemente em golfinhos pode, ironicamente, ser o que force o fim da alimentação por carne de golfinho.
Me surpreende que a caça de baleias e golfinhos se mantenha no século 21. Nós sabemos tanto sobre estes animais magníficos. A observação de baleias e golfinhos gera mais de U$2.1 bilhões por ano em todo mundo, muito mais do que a caça de baleias e golfinhos.
À luz de ameaças emergentes aos ecossistemas marinhos, e à baleias e golfinhos em particular, a matança deliberada desses curiosos, inteligentes e conscientes animais é trágica e irá apena acelerar a extirpação de populações inteiras dessas magníficas sentinelas do mar. Mas o que acontece agora com os golfinhos é claramente um arauto do que confronta a humanidade.
Traduzido por Marcelo C. R. Melo, voluntário do ISSB.
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